Uma tecnologia simples e barata está melhorando a qualidade da água consumida no interior de Pernambuco. O processo de desinfecção usa os raios do sol para acabar com as impurezas.
Beatriz Castro Orobó (PE)
Num sítio em Orobó, no agreste de Pernambuco, a merendeira Rosinete Barbosa e a filha vão buscar água para abastecer a família. Em vez do líquido barrento e com gosto de sal que é tão comum na região, elas recolhem as garrafas com água cristalina. Cerca de 75% das famílias de Orobó vivem na área rural, um pedaço do semi-árido nordestino onde água é sinônimo de escassez. Lá não existe rede de abastecimento; os moradores cavam postos e armazenam a água da chuva em reservatórios quase sempre sem tratamento. A tecnologia alternativa usada por Rosinete começa a mudar essa história. Dezenas de famílias já aprenderam a aproveitar um recurso que tem de sobra na região para tratar a água: o calor do sol é usado no processo chamado de desinfecção solar. O método foi divulgado por uma organização não-governamental da Suíça. “Exposta ao sol, a água vai aquecer e assim morrem os microorganismos, já é comprovado cientificamente. Inclusive, a Organização Mundial da Saúde já divulga esse método nos países onde há carência de água tratada”, explica Tânia Barracho, representante da ONG. A agricultora Maria Eliete do Nascimento explica como se faz: ela põe a água da cisterna em garrafas transparentes e deixa debaixo do sol durante seis horas sobre um plástico preto, que serve para absorver melhor o calor. Nos dias mais quentes, a água chega a ferver. “A gente toma a água e fica com saúde, não tem mais doenças que vem da água”, ela conta. O método também está sendo usado nas escolas rurais. A lição de casa dos estudantes é ensinar aos pais como tratar a água. “Tem que tratar a água direto, senão dá dor de barriga e dor de cabeça”, ensina um aluno. “Certamente, a gente vai ter uma melhoria na qualidade de vida das pessoas, diminuindo a incidência de doenças comuns, como parasitoses e hepatites”, aprova a médica Carla Moriel.